sábado, 25 de junho de 2005

Deus falou e ainda fala

No dia em que o SENHOR falou pela primeira vez, do nada houve luz. Era a Voz Criadora, que não lhe volta vazia, mas faz tudo o lhe apraz. O Verbo. Continuou falando e continuou criando. Criação perfeita. Atestada por seu “muito bom”.

Após o pecado ele continuou a falar. Falou juízo: “maldita é a terra por tua causa”. E, durante muito tempo, enquanto a sociedade pecadora e pecaminosa se organizava, o silêncio divino imperou. As poucas exceções que foram abertas visavam preservar os ancestrais do casal que materializaria sua Voz Criadora: seu Verbo.

Muitos séculos se passaram e falou juízo novamente aos de Babel: dividiu e espalhou a todos sobre a face da terra, onde, mesmo espalhados, cultivaram a violência a tal ponto que, novamente ele falou juízo: o dilúvio.

Recomeçada após o dilúvio, a criação não precisou ser tentada pelo inimigo, bastou-lhe a natureza corrompida. E por séculos, a homens pouco mais socializados, mas ainda habitantes de tendas e iletrados, falou-lhes por criaturas especiais, pela mesma razão: preservar a linhagem que escolhera para seu Verbo, no tempo próprio, recriar os que perderam a capacidade de ouvi-lo.

Novamente muitos séculos se passaram e um homem, especialmente chamado e preparado assumiu a função de falar e, pela primeira vez, registrar por escrito suas palavras: Moisés. Começava um segundo estágio: De comunicações indiretas a fala face a face. Da oralidade a escrita.

Após Moisés, o SENHOR continuou a servir-se de homens chamados de acordo com sua vontade, que, dentro do que já havia sido escrito, falavam o que ele queria, já que poucos sabiam ler.

Entretanto, seu povo, apesar de pecadores, na terra que ele mesmo lhes reservou, já progredira. Já habitavam casas, já possuíam cultivos, e a uma parte dele, os levitas, fora ordenado espalharem-se no meio de todos. Deviam ensinar a ler e a estudar sua Palavra escrita. Agora eles tinham uma diretriz imutável - porque escrita - dedicando-se a ela saberiam com certeza sua vontade.

Mas, como até hoje, a Palavra escrita era “esquecida”. Porém o SENHOR não ficava sem testemunho de si: falava juízos pelos profetas.
Povo de dura cerviz: desprezaram a Palavra escrita, não desprezariam também aos que a proclamavam?


Desprezaram!

Amaram a quem não lhes falava dela e aborreceram-se, e até mesmo mataram, aqueles que os chamavam de volta à Palavra.

Séculos depois o Reino é dividido. Idolatria crassa e vergonhosa nas 11 tribos do norte: cativeiro pelos assírios. Falta de confiança na Palavra de Deus e idolatria pior em Judá: cativeiro pelos Babilônios que já tinham escravizado os assírios.

No cativeiro a Palavra escrita ganhou importância, mais por saudades ou resistência política, do que por amor a seu Autor: Sinagogas, escribas, debates e um “silêncio profético” de 4 séculos.

O povo de Deus, ainda pecador, já havia voltado à sua terra. Mas já não estudavam a Palavra escrita. Tinham-lhe outro uso: amuletos mágicos, objeto de crendices e coisas semelhantes.

Chega a “plenitude dos tempos”. Da linhagem cuidadosamente preservada, nasce a Expressão exata do SENHOR. Nasce aquele em quem habita corporalmente a plenitude da divindade. Nasce o Verbo em forma de carne.

Agora, o “haja luz” é repetido em “haja vida”. Como Lázaro, muitos lázaros voltam a viver. O Verbo esclarece o que não se entendia da Palavra escrita e mostra que não basta cumprir seu sentido externo. Importa cumprir sua intenção. Porém, só ele é capaz de cumprir. Afinal, foi ele quem a produziu.

De muitos, escolhe 70. De 70 escolhe 12. Novos moisés! Interpretam o que foi escrito. Escrevem o que se torna necessário a se compreender os novos tempos plenos.

O povo fiel ao que está escrito conta com sua bênção. Povo que aumenta, diminui ou torce recebe castigo. Castigo dos maiores: não compreender sua vontade e andar desorientado.

Os profetas já não falam do Verbo que se encarnaria, mas do verbo que se encarnou. Porém, continuam desprezados pelos que preferem escutar a si próprios, e amados, como nunca, pelos que ouvem neles a Palavra que primeiro foi escrita e depois se encarnou. A Palavra que dizia “haja luz” e hoje diz “haja vida”. A Palavra que não volta vazia.

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