sábado, 20 de maio de 2006

Sobre a violência

Certamente você já leu a história de Noé. Afinal, desde criança, ouvimos falar de sua arca. Hoje ele é símbolo da luta pela preservação das espécies. Porém há, em sua histórica, uma determinação divina que, paradoxalmente, soa aos ouvidos modernos como aberração. Veja:

Eis a história de Noé. Noé era homem justo e íntegro entre os seus contemporâneos; Noé andava com Deus. Gerou três filhos: Sem, Cam e Jafé.

A terra estava corrompida à vista de Deus e cheia de violência.

Viu Deus a terra, e eis que estava corrompida; porque todo ser vivente havia corrompido o seu caminho na terra.

Então, disse Deus a Noé: Resolvi dar cabo de toda carne, porque a terra está cheia da violência dos homens; eis que os farei perecer juntamente com a terra. (Gn 6.9-13)

A causa primária da ira de Deus sobre os contemporâneos de Noé foi a violência deles. Todos foram eliminados, menos Noé, sua esposa, seus filhos e suas noras.

Não foi uma tsunami que atingiu um país, ou um continente. Foi o extermínio da humanidade. O Criador estava repovoando seu planeta a partir de uma família que lhe era temente.

Deus destruiu as antigas raças antediluvianas, mais violentas do que o homem moderno, e alterou a biologia, reduzindo drasticamente a expectativa de vida humana.

Porém o que chama minha atenção, além da antiguidade do problema, é o fato de que raras vezes relacionamos a violência com nossa inata disposição pecaminosa, que no texto é chamado de “todo ser vivente havia corrompido o seu caminho na terra”.

Preferimos culpar as estruturas sociais: Costumamos debitar na conta do stress cotidiano, ou na conta dos desvios comportamentais impingidos por uma sociedade estruturalmente má, a violência cometida por pessoas cultas e abastadas, ou pelo menos pertencentes à chamada classe média.

A violência cometida por desprovidos de saber e de bens, diferentemente, debitamos na conta da falta de investimentos sociais.

Há quem sustente essas conclusões com textos semelhantes aos seguintes:

“O cetro dos ímpios não permanecerá sobre a sorte dos justos, para que o justo não estenda a mão à iniqüidade” (Sl 125.3).

Ou:

“... não me dês nem a pobreza nem a riqueza; dá-me o pão que me for necessário; para não suceder que, estando eu farto, te negue e diga: Quem é o SENHOR? Ou que, empobrecido, venha a furtar e profane o nome de Deus” (Pv 30.7-9).

Estes textos parecem garantir que, até mesmo o justo, quando oprimido, acaba rebelando-se, e ao empobrecido é natural o furto.

Porém, não está claro que os escritores estão, hipoteticamente, prevendo situações extremas?
Podemos, sobre essas afirmações argumentativas, firmar doutrinas que vão contra a totalidade do ensino ético da lei de Deus?

Dizer que os atos de violência, de que fomos testemunhas nos últimos dias - e todos os demais - resultam apenas da pobreza é o mesmo que zombar dos que nasceram, e continuam pobres, e não se valeram, nem se valem, da violência.

A violência é inerente ao ser humano descendente de Adão, e, portanto, pecaminoso. Ela já aparece em nossa mais tenra infância. A “disfarçamos” pela educação recebida de nossos pais e da sociedade em que nos inserimos.

Entretanto, se a sociedade fica cada vez mais violenta, glorifica cada vez mais a violência e a impunidade, ou se o legítimo representante do Criador - o estado: ministro de Deus - não a reprime, em breve teremos gerações mais violentas do que suas anteriores.

Devemos compreender que a violência é domada apenas pelo Espírito Santo do Senhor que, habitando em nossos coração frutifica “amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio”.

Porém, se, de modo análogo ao que acontece na sociedade, os legítimos representantes do Senhor diante de seu Rebanho preferem um “outro evangelho”, buscam um “outro deus”, e atribuem ao Espírito “outros frutos” - que muitas vezes estão carregados de violência - teremos logo a derrocada da Igreja diante do século: o sal sem sabor a que referiu-se nosso Senhor e Mestre.

Portanto queridos irmãos, “Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito (Gl 5.25)”.

Um comentário:

Oliveira disse...

Caro Folton

Duas perguntas rápidas e desconexas:

1. Seria errado dizer que único justo na arca era Noé? Sua família teria sido poupada apenas em honra ao único justo que era Noé?

2. Como você lê a violência em relação a predestinação eterna? Como que analogamente você explica Deus decretando a violência sem deixar de ser justo?

Um grande abraço