segunda-feira, 5 de junho de 2006

O Pentecostes hoje (Parte 1)

Hoje, qüinquagésimo dia após a Páscoa, é dia de festa para os judeus. Chamam-na de Chag ha-Shavuót (Festa das Semanas) ou de Chag ha-Bicurim (Festa das primícias) ou ainda de Chag ha-Catsirim (Festa das colheitas). Porém, como essas palavras sempre foram muito complicadas para os gregos, o nome Pentecostes pegou desde antes do nascimento de Cristo.

Embora a Bíblia só fale dela como a festa que marca o fim da colheita do trigo, os judeus a comemoram também como o dia em que Moisés recebeu as tábuas da lei – pois vêem uma coincidência de datas desde a saída do Egito, que foi na Páscoa, até a chegada ao Monte Sinai – e lembram-se também de Rute, a moabita que afirmou sua fé no judaísmo diante de Noemi (teu povo é o meu povo, teu Deus é o meu Deus) e casou-se com Boaz nesta data, vindo a ser a avó de Davi.

Para eles é uma data propícia ao estudo da Torah (o nosso Pentatêuco) e passam a noite lendo-o. Lêem também o Livro de Rute e, lembrando seu gesto, consideram a melhor data do ano para que os adolescentes façam seu Bar-Mitzvah (o equivalente a nossa Profissão de Fé).

Há relatos de que o povo de Israel, nos dias do templo, costumava sair de suas aldeias levando os primeiros frutos de seus campos, encontravam-se na maior cidade da região, e subiam em direção à Jerusalém, onde eram recebidos com cânticos pelos Levitas.

A cerimônia da Festa, realizada nas dependências do Templo, incluía, na hora do sacrifício, o oferecimento a Deus de dois pães com a farinha do trigo da nova colheita, que, diferentemente dos demais, eram fermentados (Lv 23.15-17).

Jerusalém ficava cheia. Como era uma festa celebrada após a colheita, muitos a preferiam como uma das três festas a que eram obrigados celebrar em Jerusalém. Havia abundância trazida pelos Judeus de todas as partes do mundo por onde foram espalhados desde o cativeiro babilônico, pois vinham a Jerusalém com o ‘segundo dízimo’: onde devia ser gasto (Dt 14.22-29).

Na primeira celebração desta festa após a morte de Jesus o Espírito Santo foi derramado sobre a Igreja. Não podia haver melhor data: todos os que se interessavam, e conheciam a Torah, estavam lá, vindo das mais diversas partes do mundo, e testificaram ouvir as “grandezas de Deus” na língua da terra de onde vinham.

De repente a moabita Rute e os pães fermentados faziam sentido: era achegada dos gentios. Era o Povo de Deus, adquirindo nova face: transformando-se. Já não estavam limitados a uma nação. Das pedras Deus suscitara filhos a Abraão. Ainda eram judeus, entretanto agora o que caracterizava a todos era o “ouvir a Deus”, como Moisés quando estava no Sinai.

A esta primeira “audição” seguiu-se outra, em Samaria, onde os judeus misturados com gentios também ouviram falar as “grandezas de Deus”. Depois na casa de Cornélio, o centurião Romano, “temente a Deus” (que tinha tudo para ser judeu mas não podia), e, finalmente, os “pagãos” de fato, começando pelo Procônsul Sergio Paulo e os 16 de Éfeso.

Todos ouviram as grandezas de Deus. Todos ouvem hoje. Se Babel, por um tempo impediu, já não impede. O que começou de modo especial, hoje é mantido pela graça comum: através do trabalho de muitos tradutores as “grandezas de Deus” se tornam acessíveis a um número cada vez maior de falantes de outras línguas.

Essa é a natureza primária do Pentecostes: criar um povo apto a ouvir as grandezas de Deus.

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