sábado, 14 de outubro de 2006

O Caminhão


Há algum tempo atrás esta fotografia correu o mundo pela internet, e desde que a vi, aprendi a grande lição que ela transmite.

A cena, em si, não é apenas cômica, é, também, ridícula. Afinal, o que é que eles estão fazendo? Transportando uma cabine, ou essa é a forma final da “carroça de passageiros”? Estão rindo de felicidade ou (o que é mais provável), da estranheza que atraiu a atenção do fotógrafo?

A mensagem que ela me traz, traz junto angústia e tristeza pois ilustra bem o “evangelismo” atual. Veja:
1. A Estrutura externa está reconhecível: é a cabine de um caminhão (com alguma pesquisa é possível descobrir até sua marca).
2. O motor, outrora com a potência de muitos cavalos, foi substituído por um boi, que, não fosse a expressão de resignação bovina, eu diria que não está muito feliz com todo esse peso.
3. Os antigos passageiros, acostumados a ganhar o pão carregando e descarregando foram substituídos por dois anônimos. Um dos quais brinca ao volante qual motorista de carrossel.
4. O antigo motorista também foi substituído. Agora um risonho carroceiro, sentado no lugar do motor, toca com as rédeas o vagaroso e coitado boi.

É assim o “novo evangelismo”. As vezes dá para reconhecer nele alguma forma de verdade. Por exemplo: a “cabine” que lhe deu origem. Mas, e o motor? Outrora poderoso, a quem pouco pesava essa cabine, hoje boi sofredor a transporta com dificuldade.

O potente Espírito Santo que movia mentes e corações, foi substituído por um arremedo: mistura de emoções, campanhas, engodos ... Bois!

Veja a felicidade dos passageiros. Um faz de conta que “dirige” o outro aproveita o espaço.

O “carroceiro”, de riso enigmático, diverte-se na notoriedade que vale fotografia. Sorriso da pobreza flagrada em seu aspecto cômico ou riso escarnecedor de quem se delicia na gaiatice? Não sei.

Não sei também se a alegria do “novo evangelismo” é puro entretenimento, vazão emocional, ou prazer temporário que precisa ser mantido a todo custo, para que seus membros tenham “certeza” de possuírem o Espírito Santo.

Simulacro de viatura. Triste exemplo do que a miséria pode fazer. Alerta eloqüente sobre a vida espiritual que se tenta cultivar na impropriedade de meios e que só consegue provocar risos.

Risos amargos pois não expressam satisfação. Expressam logro. Expressam o inusitado. Expressam a dor.

Como é triste ver felicidade em quem caminha no erro. Como é triste ver o erro ser imposto como o certo.

Ah, Senhor; tem piedade de teu povo! Não nos deixes trocar as tuas águas vivas por cisternas rotas. Não nos deixes trocar o poder de teu Santo Espírito pela galhofa. Desperta em nós um coração pronto a fazer tua vontade e alegrar-se em ti.

4 comentários:

Rev. João d'Eça disse...

Só posso dizer-lhe uma coisa. Você foi Brilhante no seu artigo.

folton disse...

Obrigado João. Toda glória seja ao Senhor nosso Deus.
ab
Fôlton

Anônimo disse...

Caro Rev. Fôlton,

Meu estimado professor de Ética Cristã no JMC (1987), seu texto é, a um só tempo, sério em sua temática tão relevante (a secularização do Evangelho) quanto saboroso. Sua verve nordestina o faz escrever simples e claramente, ficando bem visível seu compromisso de Fé. Prossiga!

Anônimo disse...

Caro Reverendo

Sim, o texto é muito bom.
E foto igualmente.

Mas penso que um pouco de emoção faz bem para a alma.
Eu não consigo lembrar da graça sem me emocionar um pouco.
Eu eventualmente quando lembro dos meus pecados, e do perdão deles, então choro.

Claro que o mercantilismo emocionalista também me irrita, mas o outro estremo também não me soa bem.

Acho que somos um todo: razão, emoção e tudo o mais, e Deus usa tudo para realizar seus propósitos.

Um grande abraço