domingo, 16 de novembro de 2008

Ainda sobre resumos

Não há grande dificuldade para se entender o que nosso Senhor chamou de “o primeiro grande mandamento”: Amar a Deus de todo nosso coração, de toda nossa alma e de todo nosso entendimento. Porém, o que significa realmente amar o nosso próximo como a nós mesmos?

Este “segundo grande mandamento”, que, nas palavras do Mestre, é semelhante ao primeiro, apresenta-nos diversas dificuldades de entendimento, pois temos de lidar com algo que a tradição cristã, no mínimo, evita examinar: o amor próprio. Se devemos amar nosso próximo como a nós mesmos, então devemos amar a nós mesmos.

Há muito tempo atrás ouvi de alguém, hábil em matemática, que devemos amar a Deus com 51% de nosso amor. Os 49% restante deveriam ser divididos igualmente entre nós mesmos e nosso próximo. Segundo seu raciocínio, a soma do amor que dedicamos a nós mesmos, com o amor que dedicamos a nosso próximo, nunca deve ser maior do que o amor que devemos dedicar a Deus. Tampouco o amor que dedicamos a nós mesmos deve ser maior do que o que dedicamos a nosso próximo e vice-versa.

Já escrevi aqui, que, dentro da cosmovisão bíblica, amor é fundamentalmente cuidado. Entretanto não é apenas cuidado. Se fosse a equação acima faria sentido: cuidaríamos daquilo que refere-se a Deus, com 51% de nosso tempo, esforço, capacidade, etc. e o restante dividiríamos igualmente entre nós e nosso próximo. Mas, como poderíamos conciliar tal entendimento com a ordem “amarás o Senhor teu Deus de TODO o teu coração”, que é o “grande e primeiro mandamento”?

Hoje – sem desconsiderar que amar é fundamentalmente cuidado – vejo mais como uma questão de atitude. Explico: Suponha que eu esteja diante de um dilema. Minha atitude deve levar em conta primariamente a vontade de Deus e em segundo lugar a vontade de meu próximo e a minha.

Observe que esta atitude pode ser aplicada tanto à mão direita quanto à fronte (tanto à ética quanto à doutrina). Vivemos em uma época em que a vontade e as oportunidades de se quebrar a lei de Deus são muito grandes. E não falo de grandes decisões. Falo do dia-a-dia. Falo de aborto, engano, relacionamentos e de tudo aquilo que se coloca em nossa frente a todo instante. O que fazer, ou o que pensar? Fazer e pensar em primeiro lugar aquilo que manda a lei de Deus e em segundo lugar aquilo que atenda ao meu próximo da mesma forma que me atenda.

Dois namorados me perguntaram sobre aborto. Precisei voltar atrás e mostrá-los que chegaram a esse ponto por não respeitarem primeiramente a lei de Deus sobre a castidade, e que estão pensando em eliminar a vida do próximo – o bebê – por não vê-la tão importante quanto a vida deles mesmos.

Como vou cultuar a Deus? Se o fizer do modo semelhante ao descrito na Bíblia, jamais terei um ambiente que agrade ao meu próximo, mesmo que ele tenha nascido na Igreja! Mas, para agradar meu próximo devo desagradar a Deus? Minha obrigação primária é agradar a Deus. Satisfeita, não posso impor ao meu próximo aquilo que agrada apenas a mim.

Nossa atitude concreta é o que conta ao falarmos de amor como cuidado. É exatamente disso que Jesus está falando quando mudou o segundo mandamento. Você notou que ele foi mudado? Veja: “Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros” (Jo 13.34).

Acabou-se a ambigüidade. Deus foi satisfeito de modo pleno. Todas as exigências de sua justiça foram cumpridas em primeiro lugar. Agora, aquele que conseguiu fazer isso tornou-se o padrão: Amai uns aos outros como eu vos amei!

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