Ainda criança, lendo a parábola do filho pródigo, minha atenção se voltava sempre para o pai: Por que ele não tentou dissuadir seu filho? Por que sequer lamenta sua grosseria em pedir sua parte da herança enquanto ele estava vivo?
Nunca foi assim com meus pais, e creio que não é assim com nenhum pai. Todos tentam dissuadir seus filhos de eventuais erros. Mas, por que o pai esboçado pelo Senhor Jesus nesta parábola - que simbolicamente representa o Pai Celeste - é diferente? Será que ele não liga pro que acontece a seus filhos?
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A ênfase que damos ao filho mais moço - ao ponto de emprestarmos seu nome à parábola - desdiz o propósito principal do Senhor Jesus que era ensinar aos filhos mais velhos a receberem com alegria seus irmãos que retornam ao lar.
Entretanto, estude-a com calma e tenho certeza de que você concordará comigo de que o personagem em torno do qual tudo acontece é o Pai.
Agora, observe bem: Jesus esboça dois tipos de filhos e só um pai. Os dois filhos ilustram dois tipos de pecadores e o pai é único, pois é figura de Deus que é um só.
Há pecadores ousados e irreverentes, como o filho mais moço, a ponto de exigir de Deus aquilo que não lhes é de direito. Há pecadores que continuam morando na casa do pai, como o filho mais velho, e, sem coragem de enfrentá-lo, colecionam ressentimentos daquilo que chamam de direitos usurpados.
Há pecadores arrependidos que, caindo em si, voltam para a casa do pai. Há pecadores empedernidos e orgulhosos que não admitem que a casa do pai seja maculada pela presença do outro, mesmo que o outro seja seu irmão.
Há pecadores que reconhecem o erro e seu próprio estado, ainda que para isso tenham sido obrigados a comer comida de porcos. Há pecadores que, sempre desfrutaram da mesa do pai, mas não reconhecem que o ressentimento velado que possuem contra ele, é mais ofensivo do que considerá-lo morto. Entretanto, jamais admitem estar errados.
Há muitos tipos de pecadores, mas um só tipo de Pai.
Por sua própria natureza o Pai está disposto a perdoar o filho que volta. Por sua própria natureza o Pai está disposto a restaurar a filiação abalada pela maior ofensa daquele que o reconhece como pai. Por sua natureza o Pai é que é pródigo. Pródigo em amor. Pródigo em perdão. Pródigo em aceitação.
A única exigência inerente a natureza do Pai é continuar pai. Por isso ele não dissuade o filho que deseja virar-lhe as costas. O filho precisa ter consciência de que, até para virar as costas a seu pai, precisa do que ele dá: força, liberdade, ousadia, e meio de subsistir longe de sua casa.
Há muitos tipos de pecadores, mas há um só Pai. Imaginar que qualquer coisa escolhida como pai transforma-se no verdadeiro Pai é tão insensato quanto imaginar que a comida dos porcos é a mesma coisa que o pão da casa do Pai.
4 comentários:
Caro Reverendo Folton
A duras penas foi que entendi esta parábola.
Se passou muito tempo até que eu realmente entendesse.
Eu era tipicamente o filho mais velho que não saiu de casa e tinha ressentimentos dos que se lambuzavam no pecado e depois voltavam como heróis e mocinhos.
E o que mais me irritava naquela época é que a minha igreja quase que "idolatrava" estes ex-grandes-pecadores, quanto mais o camarada dizia que tinha matado ou se prostituído, mais a igreja "gostava"...
Depois do meu novo nascimento foi que vi de fato como bem escreves no texto, que a minha situação era até pior do que a do filho pródigo.
Um grande abraço
Oliveira, querido irmão;
Seu testemunho é importante, pois eu vejo isto todos os dias na Igreja.
ab
Fôlton
Rev. Que maravilha ter como ler estes textos aqui no seu blogger. Dou MUITAS GRAÇAS A DEUS por isso. Dou graças a Deus por um dia te conhecer e me tornar seu amigo. Dou graças a Deus por um dia o Sr. aceitar ser meu conselheiro,meu pastor sem ser membro de sua igreja.
Dou graças a Deus por tantas coisas que tenho aprendido com o Sr.( até aprender a ler, não no sentido de ser alfabetizado )
Dou graças a Deus pois foi através de nossas conversas que aprendi e estou aprendendo a conhecer melhor o nosso PAI.
Que Deus continue a abençoá-lo
Maurício
Caro Maurício;
Agradeço sensibilizado tuas boas palavras e as coloco todas aos pés da cruz de nosso Senhor. Toda glória seja a ele.
Digo também que a oportunidade de te conhecer, para mim, foi única. A poucos tenho em tão grande estima.
ab
Fôlton
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