sábado, 19 de dezembro de 2009

O que senti e do que estou certo

Vi luzes feéricas, enfeites - os mais coloridos - vi presentes lindos. Vi papéis picados forrando o chão e algodão imitando neve. Vi árvores muito verdes - sempre verdes - e até um presépio animado. Mas não vi a menor recordação do quanto nosso Senhor abriu mão para se fazer um de nós.

Ouvi belas músicas - daquelas que enchem os olhos de lágrimas - ouvi outras feias, com letras absurdas e melodias tolas. Ouvi cumprimentos, discursos e até sermões. Mas não ouvi a menor lembrança de que o Senhor se encarnou para salvar-nos de nós mesmos fazendo-nos justiça de Deus.

Senti cheiros mais doces do que incenso. Cheiro de chocolate quente e de pães recheados de frutas. Experimentei frutas de que só ouvira falar e outras que só aparecem no fim do ano. Mas, só de falar em cheiro de estrebaria, quem estava ao meu lado me chamou de chato.

Apalpei tecidos macios, peles fofas e sedas lisas. Mas o que veio a minha mente foi o pano grosseiro das faixas que enrolaram meu Senhor.

Contemplei paisagens lindas: nevadas, radiantes e estreladas. Contemplei pinturas, gravuras e belos desenhos. Mas nenhuma delas tirou de minha mente a lembrança de que a noite que recebeu meu Senhor foi tão comum que Herodes teve de indagar sua data.

Muitas lendas e muitos contos. Pouca, ou nenhuma, verdade. O verdadeiro significado de separar-se um dia para se comemorar “Deus conosco”, partilhando de nossa natureza, foi soterrado pelos interesses mais sórdidos de ganância e lucro.

Seja feliz (dizem, escrevem, cantam), compre aqui! Como se comprar fosse o caminho da felicidade. Que embuste!

Quero trazer à memória o que me dá esperança: A Misericórdia do Senhor - sem a qual todos nós seríamos consumidos, e, da qual, todas as demais, que se renovam a cada manhã, são apenas figuras - nasceu numa estrebaria e foi deitado numa manjedoura: seu primeiro passo em direção a cruz.

Quero trazer à memória o que me dá a certeza de que juntamente com ele tenho vida na presença do Pai.

Quero trazer à sua memória a mais forte das lembranças que eu puder reavivar: não uma história qualquer, mas a notícia de que Deus se fez homem para que nós fôssemos feitos seus filhos. Não apenas filhos de seu poder criador, mas, filhos de seu amor.

Feliz Natal!

Ao adquirir nossa natureza
o Senhor foi preservado do pecado.

Porém, a natureza que ele adquiriu
não foi a de Adão antes de ter pecado,
muito menos a que Adão teria se não houvesse pecado.
Mas aquela natureza a que nosso pai foi reduzido
após rebelar-se contra Deus.
A mesma com que nascemos
e a mesma que nos faz inimigos de Deus.
Aquela da qual se diz: “éramos, por natureza, filhos da ira”.

Ele não hesitou tomá-la por amor dos seus,
como não se envergonha de ser chamado nosso irmão.

Um comentário:

Jônatas Abdias de Macedo disse...

Belíssimo texto. De fato nossas experiências natalinas modernas nada comungam da experiência daqueles envolvidos no primeiro e signiticativo natal. Deus o abençoe para que, à medida que traz à sua memória aquilo que produz esperança, a nossa também seja, igualmente, relembrada! Abcs