sábado, 4 de dezembro de 2010

Sobre o Rio de Janeiro e sobre Tiririca

Embora Nero fosse o Cesar quando o apóstolo Paulo escreveu aos Romanos, ele não evitou o ensino claro que permeia todas as Escrituras Sagradas: O Governo também é ministro de Deus. Paulo chega a dizer que “não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas. De modo que aquele que se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus” (Rm 13.1-2).

Devemos agradecer a Deus pelo que estamos vendo no Rio de Janeiro, pois, no mínimo, começam-se a cumprir as palavras do salmista: “O cetro dos ímpios não permanecerá sobre a sorte dos justos, para que o justo não estenda a mão à iniquidade”. Que os governantes de lá continuem com essa missão divina: abater os maus.

Exorto a Igreja a que sirvo como pastor que agradeça a Deus pelo alívio dos moradores de lá e pelo aumento da segurança de nossos filhos que estudam lá. Entretanto, exorto também que peça a Deus pela consolidação do processo, pois alguns amigos que lá residem há muito tempo me informam que ainda há muito o que fazer.

De fato. Se a quantidade de drogas bem como o enorme arsenal apreendido pertencia apenas ao que já foi foi conquistado, imagine o que pode haver nos demais redutos nos quais o governo não se fez presente.

Nos aproximamos do final do ano e não podemos abafar esse clamor por uma sociedade mais justa e ordeira com o fugaz e enganoso clima natalino. Devemos nos lembrar do antigo provérbio latino: ora et labora.

 

Tiririca

Antes de ontem alguém me enviou uma foto do deputado eleito Francisco Everardo Silva, o Tiririca, segurando um cartaz onde estava escrito “paçei!”.

Enquanto ria, me lembrei de Ambrósio.

Na época de seminário eu gostava de ler o historiador Justo Gonzalez. Ele descreveu a eleição de Ambrósio como bispo de Milão assim:

O ano era 373 quando a morte do bispo de Milão veio turbar a paz desta grande cidade. Auxêncio, o bispo falecido, tinha sido posto neste cargo por um imperador ariano, que tinha enviado para o exílio o bispo anterior. Agora a sede estava vaga, e a eleição ameaçava transformar-se em um tumulto que poderia ser sangrento, pois tanto os arianos como os nicenos estavam decididos a fazer com que um dos seus fosse eleito.

Para evitar derramamento de sangue, Ambrósio, o governador da cidade, foi pessoalmente à igreja onde seria realizada a eleição. Seu governo justo e eficiente lhe tinha conquistado as simpatias do povo. Natural de Tréveris, Ambrósio era filho de um alto funcionário do Império, e por isto esperava que sua carreira política o levasse a posições cada vez mais elevadas.

Mas para que sua carreira não fosse arruinada era necessário evitar uma desordem violenta na eleição do novo bispo de Milão.

Com isto em mente Ambrósio foi à igreja, pediu a palavra e começou a exortar o povo com a eloquência que mais tarde o faria famoso. À medida que Ambrósio falava a multidão se acalmava, dando a impressão de que os esforços do governador teriam bom êxito.

De repente um menino gritou: “Ambrósio bispo!” Inesperadamente o povo também começou a gritar: “Ambrósio bispo! Ambrósio bispo! Ambrósio! Ambrósio! Ambrósio!”

Para Ambrósio este grito da multidão podia significar o fim da sua carreira política. Por isto ele abriu passagem entre o povo, foi até o pretório e condenou diversos presos à tortura, na esperança de perder sua popularidade. O populacho, porém, o seguia e não se deixava convencer. Então o jovem governador mandou trazer para sua casa mulheres de má fama, para assim destruir a opinião que o público tinha dele. Mas o povo continuava na frente de sua casa, e continuava gritando que queria que Ambrósio fosse seu bispo. Duas vezes ele tentou fugir da cidade ou se esconder, mas seus esforços fracassaram. Por fim, rendendo-se à insistência do povo e à ordem imperial, ele concordou com ser bispo de Milão.

Ambrósio, todavia, nem sequer tinha sido batizado…

Depois, no transcurso de uma semana, ele foi feito sucessivamente leitor, exorcista, acólito, subdiácono, diácono e presbítero, até que foi consagrado bispo oito dias depois, no dia primeiro de dezembro de 373.

Ambrósio não tinha as qualificações eclesiásticas para ser bispo, e alguns acham que Tiririca não tem as qualificações legais para ser deputado da República do Brasil.

Ambrósio foi exposto ao vexame diante de uma cidade de alguns milhares de habitantes. Tiririca o foi diante de milhões.

Ambrósio não queria ser bispo e acabou sendo um dos melhores. Tiririca ansiou ser deputado Federal. Espero – e peço a Deus - que se torne um dos melhores deputados.

Um comentário:

Oliveira disse...

Caro, um texto otimista, divertido, culto, interessante, e muito legal... me peguei rindo quando vi a carreira eclesiástica de Ambrósio que chegou no topo em 8 dias... risos...

Antes de findar o ano, dá uma olhada nos seus e-mails antigos e veja lá uma pergunta que lhe fiz. Se puder responder, agradeço.