sábado, 3 de março de 2012

Pele por pele

“Pele por pele, e tudo quanto
o homem tem dará pela sua vida”
Jó 2.4

Por dever de ofício há quase 3 décadas tenho visto belíssimos exemplos de fé e muita manipulação dela. Porém, como filho de missionário, desde que me entendo por gente meu pai já me advertia contra os que, usando a terminologia de nosso Senhor, ele chamava de lobos e bem cedo aprendi que o melhor lugar pra se ver os lobos em ação é perto de um doente.

Por dever de ofício tenho acompanhado doentes terminais, tanto idosos quanto jovens, até o último suspiro. Tenho visto suas famílias gastarem tudo o que possuem e até se endividarem com tratamentos, que as vezes apenas prolongam o sofrimento. Quando prolongam, pois alguns, de tão estranhos, cobrem o coitado de ridículo, mas para prolongar sua vida ele é capaz de beber a própria urina.

Satanás sabia o que estava falando. Deus é que resolveu “apostar” em Jó.

O curso normal de nossa vida física é nascer, concluir a formação dos órgãos necessários à vida adulta, viver em certa estabilidade biológica durante um período propício a gerar filhos e então iniciar uma paulatina e constante degenerescência até a morte.

O curso normal de nossa vida espiritual é nascer, tomar conhecimento do mundo que nos cerca, adquirir noção do certo e do errado e, com ela, a convicção de que nascemos em pecado e em rebelião contra Deus, mas ele nos fez seus filhos em Jesus Cristo. Então, desenvolver os valores dessa filiação em tudo o que fizermos nesta vida até o dia em que entregarmos nosso corpo à morte e nos mudarmos provisoriamente para junto do Senhor Jesus onde aguardaremos o último dia.

Enquanto estivermos aqui, portanto, estamos sujeitos, no mínimo, à degenerescência do corpo. Isso é tão inevitável quanto a própria morte.

As promessas de vida eterna que encontramos nas Escrituras Sagradas serão totalmente cumpridas, como se ainda estivéssemos no Éden quando voltarmos para junto do autor da vida. Enquanto estivermos fora desse ambiente, em um mundo que luta para viver sem Deus, estamos sujeitos ao que nossos pais nos legaram: o que aprendemos na escola: entropia. Viver é um ato de nega-entropia.

A energia que usamos para lutar contra a entropia é extraída daquilo com que nos alimentamos e por uma série de reações com o meio ambiente e com o que fazemos (ar, luz, movimentos, etc...), que eu não tenho competência para explicar, essa energia mantêm nossa “máquina” funcionando. Máquina através da qual nossa alma se manifesta e com a qual interage. De tal modo que a afeta (“aformoseia o rosto” Pv 15.13) e é afetada.

Quando, por algum motivo, nosso corpo sofre alguma disfunção buscamos corrigir. Paulo recomenda a Timóteo que faça uso regular de um pouco de vinho devido a seus problemas estomacais (1Tm 5.23), e é documentado que os judeus de então se valiam de azeitonas como laxante, ou de melissa como calmante.

Jesus curou doenças para provar que era Deus. Não foi limitado por coisa alguma. Curou quem quis, quando quis e como quis. Curou mediante o pedido dos pais ou de um patrão. Exortou um pai a manter a fé enquanto dirigia-se a sua casa onde ressuscitou-lhe a filha. Interrompeu um cortejo fúnebre de samaritanos para devolver vivo o filho de uma viúva e chamou para fora do sepulcro um morto já em estado de putrefação.

Autorizou a seus apóstolos a fazerem o mesmo para que a mensagem deles fosse credenciada. Mas observe, que eles sofreram sérias limitações: Paulo deixou Trófimo doente em Mileto (Tm 4.20), nem acalmou a tempestade que os afligiu por dias em sua viagem à Roma (aliás é interessante observar que apenas o Senhor fez milagres sobre a natureza).

Entretanto para convencer que possuíam as palavras de Deus, os lobos sempre se apresentaram com poder de cura. Esse fenômeno não é novo. Os curandeiros não surgiram com o movimento pentecostal. Ele é tão velho quanto o surgimento do poderio centralizador da Igreja de Roma, que alega ter feito curas com o auxílio dos pregos da cruz e até pedaços dela; dos ossos dos muitos mártires, santos e profetas; de frascos com leite da mãe de Jesus, etc. Seus centros milagrosos não estão apenas em países atrasados do terceiro mundo como Aparecida no Brasil, eles estão também em Lourdes na França, Fátima em Portugal e nem é preciso falar da Itália.

Hoje os estudiosos estão divididos sobre a realidade dos milagres feitos pelos vários tipos de milagreiros. Mas não vou entrar nesse tema, continuo aguardando a cura de uma criança com paralisia infantil, ou de um cego de nascença, ou de um poli traumatizado por um acidente de carro. Gostaria muito de ver alguém esvaziar um CTI.

Em nenhuma das vezes que fui a uma farmácia comprar um analgésico o farmacêutico me recomendou que o tomasse “com muita fé”. Independentemente do que eu faça 30 gotas daquele analgésico são suficientes para sanar minha dor de cabeça. Não são assim os lobos. Eles dizem: “Receba a cura. Tome posse pela fé”. Se ela não ocorrer, respondem: “Você não teve fé”.

Eles não podem dizer como Pedro: “Não possuo nem prata nem ouro, mas O QUE TENHO, isso TE DOU: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, anda!” (At 3.6). Mas eles tem essa certeza: o homem fará qualquer coisa pela sua vida. Essa é a oportunidade que eles esperam.

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