quinta-feira, 19 de abril de 2012

Missões II

Eu já tinha dado este assunto por encerrado e cria piamente ter deixado claro que, como o Senhor Jesus recebeu todo o poder e ordenou a seus discípulos que pregassem o evangelho ao mundo inteiro não havia o que questionar. Pequei. Fui presunçoso.

O mínimo que aconteceu foi uma questão que está no blog, perguntando se há, de fato, diferença entre ter autoridade e ter poder.

Pois bem: ter autoridade não é a mesma coisa que ter poder. As vezes quem detém o poder não é quem tem a autoridade. Pense no caso de um sequestro de um avião ou de um motim. A autoridade foi usurpada por quem tem poder. De pouco adianta um magistrado ter autoridade se não tiver poder para exercê-la.

Recentemente fui hóspede de um que me contou que em uma cidade do interior um juiz de paz viu-se obrigado a dar voz de prisão a um coronel e aconteceu o seguinte diálogo:
- teje preso!
- Num tejo!
- Eu sou autoridade e tô dizendo: teje preso!
- Nun tejo. E quero vê quem é que vai me prender!

Entre o primeiro e o segundo “teje preso” os dois guardas que acompanhavam o juiz já tinham virado a esquina.

Então pra não ter uma ordem contrafeita o juiz deu outra:
- Então fique aí mesmo seu teimoso!

Percebeu? O Juiz tinha autoridade (aliás, nem sei se um juiz de paz tem tal autoridade. Décadas atrás talvez tivesse), mas o coronel tinha o poder de intimidar os guardas.

O Senhor Jesus não apenas tem autoridade como também poder para regenerar o coração daqueles que ele quer. Daquele que são seus. Do mesmo modo que ele chamou Lázaro para fora do túmulo e Lázaro atendeu, ele chama quem está morto em seus delitos e pecados e tal defunto não fica no túmulo.

Ora, defuntos não ouvem, portanto é forçoso admitir que a voz que atingiu os ouvidos de Lázaro é a mesma voz que no princípio de tudo disse “haja luz e houve luz”.

Mas alguns objetam que essa voz não fala hoje. Com a Fé Reformada eu creio que fala sim! Fala através da pregação do autêntico pregador que prega o autêntico evangelho. É a voz de Jesus, que via de regra é rejeitada, como sua própria voz, nos dias de sua carne, foi rejeitada também, ao ponto de ser crucificado. Porém, quando um verdadeiro filho de Deus a escuta... Não é necessário qualquer enfeite (que, aliás, só atrapalham): “As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão” (Jo 10.27-28).

Note bem: A fé arminiana, que deposita no homem a iniciativa de buscar a Deus, acha que Jesus tem a autoridade e o homem tem o poder, pois é o homem que decide se aceita ou não. Eles pregam que é o homem que possui a chave de seu próprio coração.

O evangelicalismo moderno, com o evangelho contextualizado, em que não se deve falar de pecado, ou se deve evitar coisas que pressupostamente quem ouve não compreende - ou a explicação é enfadonha, como sacrifício vicário - não nega a autoridade de Jesus, mas divide o poder: uma pequena parte está no ouvinte, que tem de se decidir, e a maior parte está no modo como o evangelho é apresentado: relevantemente ou não. Aí vale até se vestir de palhaço.

Curiosamente, quando o Espírito Santo tornou os discípulos de Jesus capazes de ir mundo afora e cumprir a ordem que receberam, os dotou apenas com duas coisas: intrepidez e capacidade de falar novos idiomas. Só isso! Lembre-se que naqueles dias o teatro e as seis artes já eram conhecidas!

Pregar o evangelho é apenas falar as grandezas de Deus. Só isso. O Espírito Santo faz o resto.

Um comentário:

José Francisco da Silva disse...

Rev. Folton,
Deus continue enchendo seu coração a ponto de transbordá-lo; e nesse transbordar, sejam nossas vidas atingidas e transformadas pelo conhecimento. Obrigado!