domingo, 29 de julho de 2012

À mesa com Jesus

Sempre que podia, nosso Senhor participava de festas ou banquetes independentemente de quem o convidava ou estava lá. Isso era notável especialmente para o povo judeu, pois para eles assentar-se em uma roda, como exortava o Salmo 1, deveria ser algo criterioso, especialmente se fosse para comer, uma vez que ao se compartilhar alimentos havia uma espécie de celebração tácita de uma aliança de amizade.

Os Evangelhos sinóticos registram o chamado de Mateus ou Levi e são unânimes em notar que os fariseus questionaram o comportamento de Jesus, estranhando que um mestre comesse com publicanos e pecadores.

A resposta de Jesus, registrada igualmente pelos três evangelistas, foi: “Não vim chamar justos mas pecadores ao arrependimento”. Ou seja: ao confraternizar-se Jesus estava fazendo o mesmo que fez ao tocar os leprosos, ou ao tocar o cadáver, ou ao deixar-se tocar pela prostituta. Paulo entendeu tão bem que registrou: Deus “o fez pecado por nós” (2Co 5.21).

Mateus e Lucas registraram que Jesus desabafou, imprecando contra sua geração, com as seguintes palavras: “A que, pois, compararei os homens desta geração? A que são semelhantes? São semelhantes a crianças que, sentadas nas praças, gritam umas às outras: Tocamos flauta para vós, e não dançastes; cantamos lamentações, e não chorastes. Porque João Batista veio, não comendo pão nem bebendo vinho, e dizeis: Tem demônio; e veio o Filho do homem, comendo e bebendo, e dizeis: É um glutão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores” (Lc 7.31-34).

Lucas registra que antes do Senhor Jesus contar a Parábola da Ovelha Perdida “Aproximavam-se de Jesus todos os publicanos e pecadores para o ouvir. E murmuravam os fariseus e os escribas, dizendo: Este recebe pecadores e come com eles” (Lc 15.1-2).

No banquete oferecido por Levi, onde havia publicanos e pecadores, na casa de Zaqueu, reputado como pecador por ser o principal publicano daquela região, ou em uma refeição mais caseira, como as que tomou em tantas casas, como na de Maria e Marta, certamente era um privilégio dividir os alimentos e a conversa com Jesus, mas curiosamente só há um relato, que eu me lembre agora, dessas conversas à mesa com Jesus. Aconteceu na casa do fariseu Simão.

Simão o convidou para jantar, mas o recebeu desdenhosamente esperando com isso ser imitado pelos demais sobre os quais tinha influência. Permitiu até que uma prostituta entrasse em sua casa, pois assim mostraria que tipo de profeta era Jesus (Lc 7.36-50). Nesse contexto ocorre o diálogo. Na realidade uma agressão inusitada: Jesus agride seu hospedeiro, mostrando-lhe e a todos o quanto ele era pior do que a prostituta apesar de julgar-se melhor do que ela.

Mas houve uma refeição especial, à qual Jesus só permitiu a presença de seus discípulos: sua última ceia:

“Jesus, pois, enviou Pedro e João, dizendo: Ide preparar-nos a Páscoa para que a comamos. Eles lhe perguntaram: Onde queres que a preparemos? Então, lhes explicou Jesus: Ao entrardes na cidade, encontrareis um homem com um cântaro de água; segui-o até à casa em que ele entrar e dizei ao dono da casa: O Mestre manda perguntar-te: Onde é o aposento no qual hei de comer a Páscoa com os meus discípulos? Ele vos mostrará um espaçoso cenáculo mobilado; ali fazei os preparativos. E, indo, tudo encontraram como Jesus lhes dissera e prepararam a Páscoa. Chegada a hora, pôs-se Jesus à mesa, e com ele os apóstolos. E disse-lhes: Tenho desejado ansiosamente comer convosco esta Páscoa, antes do meu sofrimento. Pois vos digo que nunca mais a comerei, até que ela se cumpra no reino de Deus” (Lc 22.8-16).

Observe o cuidado que Jesus tomou com este momento. Jesus a preparou meticulosamente: 1) Judas não soube antecipadamente o lugar em que ela aconteceria, pois Jesus não queria ser interrompido. 2) Dela não participou sequer os donos da casa. Apenas seus discípulos. Era sua última aula e esta precisava ficar para sempre na mente de todos, especialmente daqueles que nos últimos dias discutiam quem seriam o maior. 3) Dela participaram os dois que haveriam de negá-lo: Pedro e Judas. Pedro, participou com o coração quebrantado. Errou, mas recebeu forças para superar seu erro mesmo que o tenha chorado amargamente. Judas recebeu a ceia pensando em como trair o Senhor: recebeu indignamente. Recebeu para condenação.

João relata pelo menos duas ou três horas de conversa intima e intensa com seus apóstolos: Lavou-lhes os pés, ordenando que fizessem o mesmo uns aos outros, providenciou a saída de Judas e passou a dar-lhes instruções finais: sobre como cumprir sua vontade permanecendo nele tal qual o ramo permanece na videira e sobre a missão do Espírito Santo. Finalmente orou por eles.

Não era uma refeição qualquer. Era um antegosto da verdadeira que esperamos, celebrar com ele no dia eterno. Aliás, ele espera também: “A seguir, tomou Jesus um cálice e, tendo dado graças, o deu aos seus discípulos; e todos beberam dele. Então, lhes disse: Isto é o meu sangue, o sangue da nova aliança derramado em favor de muitos. Em verdade vos digo que jamais beberei do fruto da videira, até àquele dia em que o hei de beber, novo, no reino de Deus” (Mc 14.23-25).

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