sábado, 15 de setembro de 2012

Nossas roças modernas

Chegaram os dias compridos quando o sol, antes do despertador, nos lembra que as misericórdias do Senhor se renovaram mais uma vez e as noites curtas, quentes e mal dormidas competem com o calor do dia dando-nos a impressão de que eles são mais compridos ainda.

Época desconfortável para quem vive nas ilhas de calor também conhecidas como cidades, mesmo para os que se refugiam nos ambientes refrigerados, pois quando precisam sair deles o choque térmico é cruel. Mas para quem ainda trabalha o solo, como nossos antepassados é uma época de desafios e de exercício da fé: é época de plantar.

Ao longo de todo Antigo Testamento encontramos o povo de Deus pedindo-lhe fartas colheitas. Na dedicação do Templo, Salomão pediu a Deus que atendesse as orações ali feitas pelos campos de modo que sempre houvesse chuvas e os estivessem livres do crestamento, da ferrugem e das larvas.

O salmista canta a quem, com os braços cheios colhe aquilo que semeou com lágrimas e pede celeiros atulhados com toda sorte de provisões. Também canta os vales vestidos de grãos e exultantes de alegria.

No Novo Testamento o Senhor Jesus, falando de colheitas, falava de abundância: trinta, sessenta e cem por um!

Já em nossos dias é difícil encontrar alguém que se alimente apenas do que planta em suas terras. Mesmo o fazendeiro, ou o agricultor, não vive apenas do que maneja. Ele vende sua produção e compra os outros víveres de que precisa. E podemos dizer que a regra geral é trabalhar no comércio, na indústria, ou no setor de serviços, e adquirir os alimentos nos mercados, mercearias, padarias, etc.

Seria errado dizer que as plantações de nossos antepassados, equivalem aos nossos balcões, equipamentos, mesas, escritórios, consultórios, etc.? Eu acho que não. A roça de um comerciante é sua loja. O campo de um industriário é sua fábrica. A plantação de um prestador de serviços é seu balcão. Se patrão seu lucro é sua colheita. Se empregado a colheita é seu salário. Seria errado orar por estes, se o próprio Deus nos manda orar por aqueles? Certamente não!

No Diretório Litúrgico elaborado pelos Confessores de Westminster, que nossa Igreja resumiu em seus Princípios de Liturgia, havia uma só ordem determinada para celebrar o culto. Esta ordem previa que o pastor antes de pregar fizesse uma oração por diversos assuntos de interesse geral da Igreja. Tais assuntos são enumerados detalhadamente (cerca de 22), e um deles é: “Por clima próprio a cada estação, e colheitas de acordo com o seu devido tempo”.

Nos dias antigos nossos pais se alimentavam do que plantavam e vendiam o excedente, ou trocavam pelo que precisavam. Nos tempos bíblicos os que plantavam cevada ou trigo reservavam o necessário para a família e trocavam parte por vinho, azeite, ovelhas, ou pelo que precisassem.

Geralmente cada um plantava frutas em seu quintal: figos, romãs, damascos, etc. Ou as comiam in natura, ou as usavam em alguns pratos. Mas principalmente as desidratavam para comê-las até a próxima estação. As uvas e as azeitonas podiam também ser cultivadas em pequena escala no quintal. Mas, se a terra era propícia plantava-se mais para fazer bons vinhos, o que demandava um lagar, ou bons azeites, o que exigia uma prensa. E por isso também oravam.

Hoje passamos o dia em fábricas, balcões ou salas. Os calos das mãos migraram para o cérebro. Se antes nossos pais aliviavam o cansaço do corpo ao se deitarem após a lida, hoje nosso sono, dores de cabeça, e dificuldade de dormir, são os frutos da preocupação com algo que ficou pela metade, ou que ainda sequer aconteceu, mas imaginamos que pode acontecer.

Eles oravam por chuvas na lavoura. Por que não oramos também pelo equivalente nas nossas roças modernas? Eles pediam boas colheitas. Por que não pedimos que Deus nos conduza a bons resultados em nossos negócios? Por que não pedimos ao Senhor que promova o reconhecimento de nossos esforços dobrados através de salários melhores?

Não podemos esquecer de Deus em nosso dia a dia. Ele mesmo nos ensinou através de seu servo a pedir-lhe “confirma a obra de nossas mãos”.

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