sábado, 22 de setembro de 2012

Um silêncio eloquente

Acho que foi em 1972 que assisti ao filme 2001 – Uma Odisseia no Espaço, eu era adolescente e não tinha 16 anos. Ainda me lembro da hora e dos sentimentos que literalmente me assaltaram. E durante muito tempo ruminei todas aquelas ideias tão maravilhosamente apresentadas, embora cada uma delas me comunicasse mais dúvidas do que respostas.

Meu pastor de então não sanou sequer a primeira dúvida – a mais simples – e ainda me deu uma bronca por perder tempo e dinheiro com essas coisas “imperialistas americanas”.

Hoje, com todas as dúvidas sanadas e com muitos reparos às bobagens que o diretor colocou lá, ainda gosto de vê-lo. Seu diretor, tirando a enormes bobagens, como macacos evoluindo e a ideia de deus-impessoal, conseguiu representar graficamente algumas coisas que as Sagradas Escrituras já haviam revelado há muito tempo. Nenhumas delas é essencial à salvação do homem, mas todas revelam a majestade da criação do verdadeiro Deus de forma grandiosa. Gostaria de falar de uma delas para que na próxima oportunidade que você verifique na próxima vez que o assistir: O silêncio eloquente.

A maior parte da história que o filme narra acontece em uma nave que está de viagem ao planeta Júpiter e na grande maioria das vezes em que a nave é filmada de um ponto externo, ou o espaço é mostrado a partir dela, o diretor faz questão de um silêncio total interrompido pela suave valsa Danúbio Azul, contrastando com as cenas que mostram as atividades dos astronautas dentro da nave nas quais se sente, mediante um efeito sonoro de notas graves, a vibração dos potentes motores.

Não deixa de ser impressionante essa comunicação não-verbal que o silêncio traz ao espectador. E ela me atingiu adolescente de uma forma que, até hoje, quando leio o Salmo 19, a associo imediatamente.

Davi declara neste Salmo que sem qualquer discurso, palavra, nem mesmo um simples som, dia após dia, noite após noite, os céus gritam, declaram, proclamam a glória de Deus e o firmamento enumera, lista, faz um inventário, daquilo que ele fez. Entretanto, se não há discurso, palavras ou um mísero som, por toda terra esse testemunho é tão evidente quanto a luz do sol que a todos atinge e da qual ninguém pode se esconder. Assim como ninguém pode dizer que não possui ideia do que seja o sol, nem mesmo um cego, pois “nada refoge ao seu calor”.

Esse bendito silêncio eloquente, que a todos proclama a existência de um Criador, das coisas que desafia os cérebros mais brilhantes a lhes dar uma explicação, faz verdadeiro inventário, de tudo o que este Criador fez e deixa os homens indesculpáveis diante dele.

Adolescente ainda, eu fiquei impressionado com os efeitos (ganhou Oscar apenas por efeitos especiais) usados pelo diretor para simular essa ideia de silêncio eloquente e solidão espacial, de que o salmista já falava a tanto tempo e que mostram a existência do Criador, mas que, segundo o filme, mostra apenas o vazio do espaço.

Olhando apenas o Salmo vemos com clareza algumas comparações: O silêncio do espaço grita tanto quanto o calor do sol que a todos atinge. O sol, percorre os céus de uma extremidade a outra da mesma forma que a “palavra silenciosa” de Deus percorre a terra de um lado a outro anunciando a todos a glória do Criador, listando a quantidade enorme das obras feitas por suas mãos.

Não é sem razão que o apóstolo Paulo ao analisar a situação dos seres humanos diante da negação do que é naturalmente óbvio escreve: “Pois o que se pode conhecer sobre Deus é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Pois os seus atributos invisíveis, seu eterno poder e divindade, são vistos claramente desde a criação do mundo e percebidos mediante as coisas criadas, de modo que esses homens são indesculpáveis” (Rm 1.19-20).

Ora, para se fazer um simples filme se recorreu a um artifício que imita o que naturalmente existe. Mas o que existe absolutamente não pode ter sido criado, pois isso pressupõe a existência de um criador. Percebeu? O filme, que imita o verdadeiro, pode ter sido criado. O que ele imita não.

“Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos” (Rm 1.22).

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