sábado, 10 de novembro de 2012

Olhos

Quem é acostumado a ler a Bíblia já observou que partes do corpo humano são frequentemente usadas metaforicamente. Por exemplo: as mãos. Muitas vezes com o sentido de abençoar, especialmente depois do verbo impor. Porém, se o verbo que as precede for levantar, o sentido quase sempre será oposto.

Os pés podem ser usados como expressão de vitória: “...calcarás aos pés o filho do leão e a serpente” (Sl 91.13); de humilhação: Lançou-se-lhe aos pés e disse: Ah! Senhor meu, caia a culpa sobre mim...” (1Sm 25.24).

Entretanto, há um órgão que se destaca: os olhos. Fisicamente eram tão importantes que se punia quem cegasse, mesmo que fosse a seu escravo: “Se alguém ferir o olho do seu escravo ou escrava, e o cegar, lhe dará a liberdade por causa do olho” (Ex 21.26 A-XXI).

Metaforicamente os olhos podem significar muitas coisas, a começar por entendimento “...ó povo insensato e sem entendimento, que tendes olhos e não vedes...” (Jr 5.21). Revelam até o caráter da pessoa: “São os olhos a lâmpada do corpo. Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso; se, porém, os teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará em trevas. Portanto, caso a luz que em ti há sejam trevas, que grandes trevas serão!” (Mt 6.22-23).

Neste último texto o Senhor Jesus condensou todo o ensino dos antigos, para o quais os olhos poderiam revelar bondade: “Quem vê com olhos bondosos será abençoado, porque dá do seu pão ao pobre” (Pv.22.9 A - XXI). Ou inveja: “Não comas o pão daquele que tem os olhos malignos, nem cobices os seus manjares gostosos” (Pv 23.6 ARC). Isaías fala da altivez presente no olhar (2.11); e Ezequiel (16.5) fala de olhos não apiedados. Salomão promete literalmente castigo aos “olhos que zombam do pai ou desprezam a obediência da mãe...” (Pv 30.17 – ARC).

Com exceção de Jeremias 32.4 e 34.3, cuja interpretação precisa ser literal, e Gálatas 4.15, onde Paulo está falando da generosidade dos irmãos daquela igreja, a expressão “os próprios olhos” sempre significa, na Almeida XXI, conceito sobre si mesmo. A Almeida Atualizada amplia o significado. Porém, nenhuma das duas se preocupou com a literalidade de Juízes 21.25: “Naqueles dias, não havia rei em Israel e cada um fazia o que parecia reto aos seus próprios olhos”.

Abrir ou fechar os olhos pode significar muito. Em Gênesis 3.5-7, abrir os olhos significou perceber que estavam nus da graça de Deus que servia de roupas a nossos primeiros pais. Já em Isaías 6.10, reforçado por Mateus 13.15, fechar os olhos é parte do processo de não conversão, que, naquele caso, é castigo infligido por Deus.

Os olhos postos nas mãos dos senhores, mais do que atenção às necessidades deles em serviço desvelado, são metáforas das bênçãos que se espera confiadamente na providencia de Deus (Salmo 133).

Quando em Isaías promete que veremos a Deus em sua formosura (33.17), ou, em Ezequiel, o SENHOR promete que se dará a conhecer aos olhos de muitas nações (38.23), ou em outros textos semelhantes fica evidente a promessa da encarnação do Verbo.

Mesmo andando com Deus seu povo não via sua face: “Pois como se há de saber que achamos graça aos teus olhos, eu e o teu povo? Não é, porventura, em andares conosco, de maneira que somos separados, eu e o teu povo, de todos os povos da terra? [...] Então, ele disse: Rogo-te que me mostres a tua glória. Respondeu-lhe: Farei passar toda a minha bondade diante de ti e te proclamarei o nome do SENHOR; terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia e me compadecerei de quem eu me compadecer. E acrescentou: Não me poderás ver a face, porquanto homem nenhum verá a minha face e viverá” (Ex 33.16-20), pois o finito não compreende o infinito. Daí a necessidade dele assumir nossa natureza: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai” (Jo 1.14). Isso também explica todas as aparições do Anjo do Senhor, ou do próprio SENHOR, como manifestações antecipadas do próprio Cristo, seja na sarça que ardia e não se consumia, seja no alto e sublime trono visto por Isaías, ou às margens do rio Quebar conforme Ezequiel.

Ao falar dos olhos de Deus é dito que “estão em todo lugar” (Pv 15.3), como também que, “passam por toda terra, para mostrar-se forte para com aqueles cujo coração é totalmente dele” (2Cr 16.9). Entretanto, Noé literalmente encontrou “graça aos olhos do SENHOR” (Gn 6.8) e o homem, de modo geral, pode fazer o que é certo “aos olhos dos SENHOR” (1Re 15.11) ou pode fazer o que é errado (1Re 16.25). Ezequias e Daniel pediram a Deus que abrisse seus olhos e visse o que estava acontecendo com seu povo (2Re 19.16 e Dn 9.18).

Deus declara que os pecados do povo fazem com que ele “esconda os olhos” (Is 1.15). Porém quando Deus olha para o homem o livra e o mantem (Sl 33.18). E tocar no seu povo é o mesmo que tocar “na menina de seu olho” (Zc 2.8).

Mas, o maior consolo para o filho de Deus é saber que os olhos do SENHOR o acompanham desde o ventre materno. Ele o vê e constantemente pensa preciosamente sobre ele: “Os teus olhos me viram a substância ainda informe, e no teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e determinado, quando nem um deles havia ainda. Que preciosos para mim, ó Deus, são os teus pensamentos! E como é grande a soma deles!” (Sl 139.16-17).

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