sábado, 12 de janeiro de 2013

Esvaziou-se

Ao encarnar-se, Jesus abdicou de sua divindade e tornou-se um mero homem, ou apenas deixou de usar seus atributos divinos?

Esse tema é um divisor de águas na teologia. No meio protestante iniciou uma discussão que perdura entre os Luteranos e os Reformados. Porém, de modo geral, é usado como respaldo a diversas heresias como à teologia da libertação.

Os adeptos da corrente que diz que ele deixou completamente de ser Deus não conseguem explicar adequadamente sua glorificação e arcam com o ônus de terem contribuído para gerar a famigerada Teologia da Morte de Deus.

Geralmente baseiam-se nas seguintes palavras de Paulo, e exageram acima de tudo o esvaziamento: “Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz” (Fp 2.5-8).

Fazendo um pequeno parêntesis: ultimamente apareceu outra heresia atribuindo ao Pai um esvaziamento semelhante. É conhecida como a Teologia Relacional, ou Teologia Aberta. Eles dizem que para Deus relacionar-se conosco abriu mão de ser onipotente, onisciente, onipresente... Ou seja: de seus atributos divinos. Quando houve aquele grande tsunami no fim do ano de 2004 um teólogo brasileiro, expoente dessa teologia, não só disse que Deus não sabia que a catástrofe ocorreria, como estava chorando ao lado das vítimas sem poder fazer nada. Ao ser perguntado se ele estava falando do mesmo Deus que enviou o dilúvio à terra e matou a todos menos Noé e sua família, desconversou.

Mas, voltando à Jesus. A Fé Reformada tem se batido para deixar claro que Jesus, ao encarnar-se tornou-se totalmente homem, mas continuou totalmente Deus. Ele não deixou de ser Deus, apenas não usou todas as suas prerrogativas divinas. Digo todas pra deixar bem claro que ele usou algumas. E ao usá-las sua intenção era dar testemunho de sua própria divindade. Ou seja: Os ensinos e os milagres que fez testificavam sua divindade. Atente para o que ele disse a Filipe. Ele esperava que Filipe visse o Pai através de suas palavras e de suas obras: “Disse-lhe Jesus: Filipe, há tanto tempo estou convosco, e não me tens conhecido? Quem me vê a mim vê o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai? Não crês que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo não as digo por mim mesmo; mas o Pai, que permanece em mim, faz as suas obras. Crede-me que estou no Pai, e o Pai, em mim; crede ao menos por causa das mesmas obras” (Jo 14.9-11).

Para seu Evangelho, João selecionou sete milagres e os chamou de sinais e deixou bem claro a razão: “Na verdade, fez Jesus diante dos discípulos muitos outros sinais que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (Jo 20.30-31).

No episódio da transfiguração, vemos como que por uma fresta, aquilo que lhe era permanente. Em um monte Moisés pediu a Deus para ver sua glória, e ao descer seu rosto brilhava tanto, que precisou cobri-lo. Tradicionalmente se entende que Moisés representava a lei ao passo que Elias representava os profetas. Lucas (9.31) declara que “falavam da sua partida (grego: êxodos), que ele estava para cumprir em Jerusalém”. Pedro, afoito, tenta perenizar o acontecimento sugerindo fazer três tendas. Nesse momento o Pai intervêm: “Este é o meu Filho, o meu eleito; a ele ouvi” (Lc 9.35).

Lembre também das palavras de João: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai” (Jo 1.14).

Ele esvaziou-se ao ponto de assumir forma de servo e morrer a mais ignominiosa morte. Porém fez isso de forma muito pior do sequer podemos imaginar. Fez isso voluntariamente, podendo parar a qualquer instante. Fez para cumprir o que já havia prometido através de seus servos, os profetas: “Acaso, pensas que não posso rogar a meu Pai, e ele me mandaria neste momento mais de doze legiões de anjos? Como, pois, se cumpririam as Escrituras, segundo as quais assim deve suceder?” (Mt 26.53-54).

Ele esvaziou-se ao ponto de 90% de sua vida ter sido passada em total obscuridade. Temos notícias de seus primeiros 40 dias de vida. Depois de um breve período, aos 2 anos, quando visitado pelos magos teve de ser levado para o Egito. Depois, de alguns dias, aos 12 anos. Finalmente, de 3 a 3 ½ anos antes da ascensão. Com boa vontade chegaremos a 40 meses. Esse período é resumido por Lucas, com palavras que certamente ouviu de Maria: “E desceu com eles para Nazaré; e era-lhes submisso” (Lc 2.51).

A glória do Senhor Jesus o acompanhou desde os momentos mais simples até os momentos mais terríveis, pois nem mesmo a morte - credor de todo o homem - o reteve. E seu trinfo sobre ela se dá gloriosamente. A partir deste instante tudo o que aconteceu para cobrir sua glória é retirado e, então assentado à direita do Pai em glória, aguarda o dia em que voltará. Nesse dia a glória do Senhor será a morada dos povos.

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