sábado, 10 de agosto de 2013

Pecadores eficientemente salvos

Desde o início da sistematização da teologia cristã apareceram ideias sobre como ocorre o processo de salvação.

Já no século V, o monge Pelágio afirmava que cada um é o responsável por sua própria salvação, pois se Deus exige que tenhamos vida perfeita ao ponto de ordenar “sede santos, porque eu sou santo” (1Pe 1.16) é porque temos em nós mesmos, ou recebemos dele, graça suficiente para viver assim.

Agostinho, que era seu contemporâneo, discordou veementemente, pois isso retiraria a salvação das mãos de Deus e a colocaria nas mãos do próprio homem. Em outras palavras: o Sacrifício de Jesus não salvou o homem, apenas estabeleceu a possibilidade do homem salvar-se.

Da mesma forma agiu Armínio no século XV, que, na minha opinião, criou todo um sistema com a preocupação de garantir a dignidade do homem, que, segundo ele, não a possuiria se não tivesse livre arbítrio para aceitar ou recusar a salvação.

Embora parta de outras premissas e use outros argumentos, no fundo ele acaba dizendo o mesmo que Pelágio: o Sacrifício de Jesus estabeleceu a possibilidade do homem salvar-se, e este, é completamente livre para aceitar ou recusar o convite gracioso do Senhor do Senhor que morreu por ele.

Entre essas duas posições há muitos matizes, que no fundo acabam dizendo a mesma coisa: Jesus não salvou. Apenas criou possibilidades de salvação. Uns dizem que tal possibilidade se materializa em apenas o pecador manifestar o desejo de ser salvo (como olhavam para a serpente levantada no deserto) e outros vão ao extremo oposto dizendo que é necessário uma vida de boas obras, de modo que ao morrer, esteja registrado no livro de Deus mais coisas a favor daquela pessoa do que contra. Do contrário – se estiver com déficit – terá de purgar seus pegados no purgatório.

Entretanto, ao se olhar o quadro geral na Escrituras – o que o apóstolo Paulo chamou de analogia da fé – chega-se a conclusão que Deus salva pecadores mediante a morte sacrificial de Jesus.

Neste ponto teríamos muito que explicar como Deus castiga em uma pessoa (seu Filho) os pecados de outro(s). Entretanto, por amor à brevidade, lembro que Jesus é a Palavra de Deus, “a expressão exata de seu ser” (Hb 1.3), “em quem habita corporalmente a plenitude da divindade” (Ef 2.9). Ou seja, “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões” (2Co 5.19). Noutras palavras: o próprio Deus assumiu em Jesus a dívida eterna dos homens para com ele.

Surge então algumas questões: 1ª) O mundo está todo salvo? Não! Ele mesmo declarou que dentre muitos haveria um rebanho, e muitas vezes nos adverte sobre julgamento, e em separar as ovelhas dos bodes, pois “muitos são chamados, mas poucos escolhidos” (Mt 20.16).

À luz do que já vimos nos dois artigos passados, em que espero ter deixado claro que nosso estado de morte espiritual nos impede de buscar a salvação. Somos lázaros defuntos em nossos túmulos até que a Voz Criadora – a mesma que disse: “haja luz e houve luz” (Gn 1.3) – nos traga de volta à vida. É necessário que Deus se dirija especificamente a quem ele quer salvar e lhe dê vida: lhe salve.

Há portanto uma diferença muito grande entre “possibilidade de salvação” e “salvação efetiva”.

Mais do que um resgate em que o salva-vidas arrasta para fora d’água quem estava se afogando, e ao chegar na praia lhe aplica todos os procedimentos necessários para que ele volte a respirar.

Na minha igreja ouvi alguém muito simples dizer com lágrimas nos olhos: - Pastor, Deus enfiou a mão no vaso sanitário e me puxou de lá! É bem isso mesmo.

Enviar seu Filho, já é algo extraordinário. Sacrificá-lo em nosso lugar está além do que podemos conceber. Eu sei que Deus pode todas as coisas, mas, porventura ele poderia ter feito gesto maior do que este? E apenas para garantir que “mortos em seu delitos e pecados” (Ef 2.1) tivessem uma opção que não são capazes de exercer? Não! Mil vezes: Não!

Jesus morreu para salvar pecadores. Seu sacrifício não será em vão. É mais poderoso do que o suicida que se debate contra o salva-vidas que o retira de seu destino mortal.

“Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora” (Jo 6.37)

“Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem a mim, assim como o Pai me conhece a mim, e eu conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas. Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco; a mim me convém conduzi-las; elas ouvirão a minha voz; então, haverá um rebanho e um pastor. Por isso, o Pai me ama, porque eu dou a minha vida para a reassumir. Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou. Tenho autoridade para a entregar e também para reavê-la. Este mandato recebi de meu Pai” (Jo 10.14-18)

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