sábado, 3 de agosto de 2013

Pecadores Salvos

Espero ter deixado claro, no texto de domingo passado, que não somos pecadores porque cometemos pecados fortuitos, mas que cometemos esses pecados fortuitos por sermos pecadores.

Espero também ter deixado claro que nosso estado é descrito pela Bíblia como “espiritualmente mortos”. E, por estarmos espiritualmente mortos, estamos em rebelião contra quem nos criou para ser espiritualmente vivos.

Quando nossos primeiros pais estavam espiritualmente vivos sabiam o que era bom e o que era mal e tinham total liberdade e capacidade para escolher entre fazer ou deixar de fazer aquilo que era bom e aquilo que era mal. Naqueles dias havia aquilo que hoje chamamos de “livre arbítrio”.

Hoje continuamos a ver o que é bom e o que é mal, desejamos fazer o bem, temos até certa liberdade de fazer qualquer um dos dois, mas não temos mais a capacidade de fazer o bem: para fazer o bem apenas por ser o bem. Desobedecendo ao Criador, nossos pais tornaram-se incapazes e nos legaram essa qualidade.

Hoje a natureza que herdamos deles, deseja, anseia e nos impele para fazer o que é mal. E mesmo quando conseguimos fazer algo de bom, o fazemos pela razão errada: para que outras pessoas vejam o quanto somos bons, ou para obter algo de Deus , ou para que alguém fique em dívida conosco, ou para pagarmos um favor, ou, no mínimo, para acalmar nossa consciência que constantemente nos acusa.

Nosso estado é tão perverso que o profeta Isaías usa palavras terríveis para descrevê-lo: “Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia; todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniquidades, como um vento, nos arrebatam” (Is 64.6). Note que o profeta diz que nossa justiça (o que podemos fazer de melhor) é como trapo de imundícia. O trapo é o pedaço de pano que seria descartado e passou a ser usado para um propósito inferior. Neste caso, para reter aquilo que estava vivo e agora se decompõe na morte, pois a palavra hebraica é ‘ed beged, que literalmente significa trapo para absorver a menstruação.

Alguém em estado tão abjeto, na realidade morto para Deus, como poderá voltar-se para ele? Não pode! É Deus quem toma a iniciativa de fazer com que esses trapos sejam limpos e bons. É Deus quem toma a iniciativa de fazer com que esses mortos vivam.

Sendo Deus quem toma essa iniciativa ele é totalmente livre para escolher o trapo que quiser no amontoado deles, pois já é de admirar que ele ainda queira usar tal trapo. Ele também é totalmente livre para ressuscitar o morto que ele quiser, pois é de admirar que ele queira reviver alguém que morreu por rebelar-se contra ele. A isso a teologia resolveu chamar de “Graça incondicional”.

Nenhum trapo pode esperar tratamento diferente, muito menos tem a capacidade de argumentar ser merecedor de tratamento especial ou diferenciado dos demais. O destino de todos é o lixo e a destruição. Nenhum morto pode esperar tratamento especial da parte de Deus, afinal ele é um defunto, e defuntos não fazem nada.

Se não for a soberana vontade de Deus nenhum trapo ou nenhum morto, pode obter a atenção de Deus que é livre para escolher o que ele quiser.

Para deixar mais clara a liberdade de Deus a esse respeito, as Escrituras perguntam: “Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?! Porventura, pode o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro direito sobre a massa, para do mesmo barro fazer um vaso para honra e outro, para desonra?” (Rm 9.20-21).

Realçando mais ainda a liberdade de Deus, lembremo-nos de Jacó e Esaú: “E ainda não eram os gêmeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal (para que o propósito de Deus, quanto à eleição, prevalecesse, não por obras, mas por aquele que chama), já fora dito a ela: O mais velho será servo do mais moço. Como está escrito: Amei Jacó, porém me aborreci de Esaú. Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum! Pois ele diz a Moisés: Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão. Assim, pois, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia” (Rm 9.11-16).

Nada há que o homem possa fazer por si mesmo (ele está defunto e continuará assim). Tudo é feito por Deus. Por isso podemos dizer: Deus salva pecadores.

Se o homem pudesse fazer algo em prol de sua salvação, tal frase não seria verdadeira. Pois, ou o homem não teria necessidade de salvação, ou, no máximo, Deus salvaria apenas aqueles que já se dispuseram a ser salvos, e, portanto, pessoas parcialmente salvas que colaboram com o próprio nascimento. Não esqueça de que esse renascimento é chamado na Escritura de a Primeira Ressureição: “Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre esses a segunda morte não tem autoridade” (Ap 20.6).

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