sábado, 21 de setembro de 2013

Rev. José Manoel da Conceição

Em 1863 o missionário Rev. Alexander Blackford, cunhado do Rev. Ashbel Green Simonton, ao mudar-se do Rio de Janeiro para São Paulo, ouviu falar de um “padre protestante”. Era o Pe. José Manoel da Conceição que morava perto de Rio Claro.

O Pe. José tinha então 41 anos. Havia nascido na capital, mas foi criado em Sorocaba pelo tio José Francisco, que era padre. Aos 18 anos foi estudar teologia e aos 20 foi ordenado sub-diácono começando o exercício de seu ofício nas proximidades de Sorocaba.

Seu contato com a Bíblia aconteceu no Seminário. Com os protestantes aconteceu através de uma família luterana com quem fez amizade nos primeiros anos de ministério (destacava o respeito que eles tinham para com o Dia do Senhor). Com as doutrinas protestantes aconteceu quando procurou aprender a língua alemã: seu professor usava como texto de leitura os sermões de Lutero.

Aos 23 anos foi ordenado presbítero e enviado pelo Bispo para uma das igreja de Limeira onde começou a pregar de tal modo que passou a ser chamado de “Padre Protestante”. Irritado, o bispo decidiu transferi-lo para Piracicaba, onde continuou sua pregação e de onde foi transferido para Monte-Mór, e depois para outras cidades.

Essas transferências, que deveriam lhe servir de alerta, propiciaram que sua mensagem evangélica fosse disseminada por diversas cidades de São Paulo e mais tarde influenciariam seu ministério itinerante, pois voltou a essas mesmas cidades pregando novamente e levando muitas pessoas ao Evangelho.

Por fim, aos 41 anos, o Bispo o nomeou para um cargo administrativo e ele mudou-se para as proximidades de Rio Claro onde possuía um sítio e onde deu-se o Encontro com o Rev. Blackford.

No ano seguinte, aos 42 anos, em visita ao Rev. Blackford em São Paulo, decidiu abraçar o protestantismo. Nesse mesmo ano voltando a São Paulo comunicou ao Bispo sua decisão e foi ao Rio de Janeiro onde conheceu o Rev. Simonton e fez sua Pública Profissão de Fé. Nesta ocasião pediu para ser rebatizado, pois entendia que fora batizado em uma fé completamente diferente (vale observar que este pedido fez com que os missionários passassem a rebatizar todos os crentes vindo do catolicismo e tornou-se uma prática da Igreja Presbiteriana do Brasil até os dias atuais). Após a cerimônia dirigiu-se à Igreja explicando as razões pelas quais deixou a igreja de Roma e recebeu a Fé Protestante.

Durante as viagens, que passou a fazer com os missionários, era frequentemente tranquilizado em suas crises de consciência pelo seu passado.

No ano seguinte o primeiro presbitério brasileiro foi organizado em São Paulo e recebeu o nome de Presbitério do Rio de Janeiro, em atenção à cidade da corte imperial. Era composto pelas Igrejas do Rio de Janeiro, de São Paulo e de Brotas, e dos Pastores Rev. Blackford (Presidente), Rev. Simonton, e Rev. Francis Schneider. A Igreja de Brotas era a maior e fora fundada mormente graças aos esforços de Conceição.

Nesta primeira reunião o Presbitério, em 17 de dezembro (hoje dia do Pastor Presbiteriano) o ordenou pastor, após exame e sermão de prova, com grande repercussão no público católico.

Sua excomunhão pela Igreja de Roma não demorou e seu ministério evangélico itinerante por todas as cidades que conhecia e virtualmente todas as cidades do Estado de São Paulo, diversas do Rio de Janeiro e do Sul de Minas Gerais e algumas no Paraná, ganhou força. Poucas vezes de trem, algumas a cavalo e a maioria delas a pé, de casa em casa, de sítio em sítio, de fazenda em fazenda.

Onde era bem recebido, além de anunciar o evangelho, retribuía a hospedagem servindo de enfermeiro ou de simples varredor do quintal.

Quando sua sentença de excomunhão foi publicada nos jornais escreveu “A Sentença de Excomunhão e sua Resposta”, que acabou tornando-se um livreto muito divulgado.

Como suas viagens lhe prejudicavam a saúde, e a experiência dos missionários mostrava que não adiantava fixar-lhe um lugar, o incentivaram a ir aos EUA. Ficou lá por quase um ano. Pastoreou igrejas da comunidade portuguesa no Illinois, mas principalmente valeu-se de seus conhecimentos de vários idiomas para traduzir diversas publicações e chegou a revisar a tradução de um Novo Testamento para a Sociedade Bíblica Americana.

De volta ao Brasil em 1868 (já com 46 anos), após a reunião do Presbitério, voltou as suas viagens. Já não estava “afinado” com o rumo do trabalho dos missionários, que agora enfatizavam a estruturação da Igreja Brasileira. Ele continuava a evangelizar e mandar seu relatórios com o nome dos novos convertidos.

Solitário, era frequentemente acometido de angústias (o que hoje chamamos de depressão) agravadas pelas perseguições de romanistas, que chegaram a agredi-lo fisicamente e até mesmo a apedrejá-lo. Na cidade mineira de Campanha foi dado como morto após um apedrejamento.

Aos 51 anos (em 1873) o Presbitério o convocou ao Rio de Janeiro com o fim de cuidar de sua saúde e morar em uma casa que o Rev. Blackford alugara. Na viagem, a pé, em 24 de dezembro, faminto cansado e fustigado pelo calor da baixada fluminense, desmaiou e foi levado a um quartel do exército em cuja enfermaria foi bem tratado. Na madrugada do dia 25 o Senhor o chamou para uma casa melhor.

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