domingo, 17 de novembro de 2013

A Manjedoura e a cruz

Dois locais destacam-se na vida de nosso Senhor: a manjedoura, e a cruz. Embora não possamos separar um do outro, podemos dizer, latu senso, que a manjedoura está para o Verbo assim como a Cruz está para o Filho do Homem. Como Verbo ele esvaziou-se até a manjedoura e como Filho do Homem ele esvaziou-se até a cruz.

Antes da manjedoura propriamente dita, ainda no ventre de Maria, sob a "sombra do Altíssimo", ele, o Verbo, “se fez carne". Tomou nossa natureza. Adquiriu um corpo semelhante ao nosso do qual nunca se separará. Lá se tornou Emanuel (Deus conosco) e lá, preservado do pecado pelo poder do Altíssimo, experimentou as primeiras limitações: tempo e espaço.

Aquele que não conhecia qualquer tipo de limites foi localizado no ventre de uma humilde filha de Israel. Ao nascer recebeu o aconchego do mais humilde utensílio de casa: a manjedoura (coxo em que se servia alimento aos animais). A manjedoura foi provisória, mas serve muito bem como metáfora de todas as dificuldades que ele sofreria e dos cuidados da humilde “serva do SENHOR”.

Outra limitação (dentre uma numerosa lista delas): tornou-se dependente. Aquele que criou todas as coisas e a todas sustenta agora depende. No ventre de sua mãe, dependia de tudo para sobreviver e na manjedoura não será diferente. Benditos seios que o amamentaram (embora ele mesmo tenha dito que mais benditos são os que ouvem a palavra de Deus e a praticam). Benditos braços que o ninaram.

Aos dois anos, perseguido por quem se assentava no trono de Davi, seu pai, foi levado a refugiar-se no lugar onde, em tempos passados, seu povo fora escravo.

Ao retornar foi levado para uma cidade da qual se duvidava sair “alguma coisa boa” onde passaria o restante de seus dias.

Na cruz a primeira mensagem é difícil de ser captada em nossos dias tão humanistas: a morte vergonhosa. Hoje deixamos de recriminar mais quem morre em razão direta de seus erros, às vezes até sentimos pena. Tornou-se comum lamentar a morte de um criminoso que trocava tiros com a polícia ou de quem morre como fruto de uma vida desregrada. Naqueles dias a crucificação era uma morte vergonhosa, pois além de exprimir a condenação da justiça como um criminoso vil, o povo judeu via nela a condenação de Deus, que havia deixado bem claro: “Se alguém houver pecado, passível da pena de morte, e tiver sido morto, e o pendurares num madeiro, o seu cadáver não permanecerá no madeiro durante a noite, mas, certamente, o enterrarás no mesmo dia; porquanto o que for pendurado no madeiro é maldito de Deus; assim, não contaminarás a terra que o SENHOR, teu Deus, te dá em herança (Dt 21.22)”.

Maldito dos homens e maldito de Deus. A esse tipo de morte o Senhor se entregou voluntariamente: “... porque eu dou a minha vida para a reassumir. Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou. Tenho autoridade para a entregar e também para reavê-la. Este mandato recebi de meu Pai (Jo 10.17-18)”.

Já humilhado, na cruz o Senhor foi desprezado. Desprezado pelos homens e por Deus. Se já havia se esvaziado para tornar-se o Filho do homem, agora se despojará de qualquer dignidade humana para receber sobre, e em si, nossos pecados: “Aquele que não conheceu pecado, ele [Deus] o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus (2Co 5.19)”.

Se a manjedoura destaca mais os atributos do Filho a cruz destaca mais os atributos do Pai. Nela, além da submissão do Filho, resplandece com igual fulgor o amor e a justiça de Deus.

Se na manjedoura a impotência decorria de seu estado infantil, na cruz a impotência exprime sua vontade resignada de, como Cordeiro de Deus, assumir o lugar daqueles por quem veio morrer.

A manjedoura foi seu caminho da cruz. Pela manjedoura ele passou para assumir nosso lugar na cruz. E, nos dois, podemos ver claramente o grande amor com que ele nos ama, pois não poupou esforços para ser um de nós a fim de nos tomar para ele.

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