sábado, 9 de agosto de 2014

Como Jesus nos via

Nos dois artigos passados, espero ter mostrado como os incrédulos inventaram todos os tipos de dúvidas sobre a pessoa de Jesus, a partir de seus próprios pressupostos, como ele foi descrito por João no Apocalipse e principalmente como ele falou de si mesmo nas parábolas que contou. Para completar o quadro mostrarei como, nas mesmas parábolas, ele fala de nós.

A figura que ele mais usou para nos descrever foi a de um servo. Desconsiderando aquelas é que isso é implícito, temos 7 parábolas nas quais somos textualmente chamados assim: Na parábola dos talentos (Mt 25.14-30), das minas (Lc 19.12-27), do senhor ausente (Mc 13.34-37 e Lc 12.35-48), das bodas (Mt 22.1-14), dos trabalhadores na lavoura (Lc 17.7-10) e do mordomo fiel (Lc 12.42). Apenas 2 parábolas nos mostram como assalariados (empregados): a dos trabalhadores na vinha (Mt 20.1-16), e a do administrador infiel (Lc 16.1-13).

É certo que ele nos apresenta também como filhos. Na parábola dos dois filhos (Mt 21.28-31) e na parábola do filho pródigo (Lc 15.11-32) somos convidados a nos identificar com o filho mais novo (que, em ambas, arrepende-se), ou com o filho mais velho (que, em ambas afronta o pai). Porém, a segunda figura mais usada é a da ovelha: veja a parábola do Bom Pastor (Jo 10.1-18), a da ovelha perdida (Lc 15.3-7 e Mt 18.12-13), a da ovelha que caiu em uma cova (Mt 12.10-12) e a parábola da separação das ovelhas dos bodes (Mt 25.31-46).

Outras parábolas também exigem que escolhamos qual dos personagens seremos: um rico ou um mendigo, na parábola do rico e Lázaro (Lc 16.19-31); um fariseu que se tem em alto conceito ou um cobrador de impostos que comparece diante de Deus com temor (Lc 18.9-14); um homem que edificou sua casa sobre a areia ou outro homem que edificou sua casa sobre a rocha (Mt 7.24-29 e Lc 6.46-49); um solo compactado pelos caminhantes, um solo pedregoso, um solo cheio de espinheiros ou ainda um solo bom e fértil na parábola do semeador (Mt 13.3-23, Mc 4.3-20 e Lc 8.5-15), e surpreendentemente a noivas prudentes ou néscias (Mt 25.1-13).

Ele nos compara também a um pai de família (Mt 13.52), a um construtor de uma torre (Lc 14.28-30), a um rei que vai à guerra (Lc 14.31-32) e a peixes selecionados pelos pescadores (Mt 13.47-50).

Somos mostrados pejorativamente também. Somos inadimplentes na parábola dos dois devedores (Lc 7.40-47) e devedores nas parábolas do credor incompassivo (Mt 18.23-35) e do adversário (Mt 5.25-26 e Lc 12.58-59). Somos cegos na parábola dos guias cegos (Mt 15.14) e aquele semeador (Mt 13.3-23) parece que é cego também. Somos como posseiros assassinos (Mt 21.33-46, Mc 12.1-12 e Lc 20.9-16), como um fazendeiro louco (Lc 12.16-21). Estamos perdidos como uma moeda cuja dona tem de varrer a casa para achá-la (Lc 15.8-10). E somos comparados a uma figueira que por seis anos permanece infrutífera (Lc 13.6-9).

Tanto na parábola das bodas (Mt 22.1-14) quanto na parábola da grande ceia (Lc 14.16-24) o sentido exige que nos vejamos como convidados, mas na parábola do bom samaritano (Lc 10.30-37) o sentido exige que nos vejamos como um viajante que, nem por isso, deixa de parar e fazer o bem.

Em outros lugares as comparações são tão fortes que possuem a forma de predicados: somos ramos de uma videira (Jo 15.1-8), o sal da terra (Mt 5.13) a luz do mundo (Mt 5.14), a cidade edificada sobre um monte (Mt 5.14) e a candeia que deve ser colocada no velador (Mt 5.15, Mc 4.21 e Lc 8.16).

Assim o Senhor Jesus nos vê. Não somos seus iguais: ele é Senhor, nós somos servos; ele é o credor, nós somos os devedores inadimplentes; ele é pai, nós somos filhos; ele é o médico, nós somos os doentes; ele é o pastor e nós somos as ovelhas. Seus apóstolos foram explícitos: João nos ensinou: ... todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome” (Jo 1.12). Anos depois, Paulo lhe fará coro: “O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo” (Rm 8.16-17).

Mas, foi na última noite, entre a ceia e o Getsêmani, que o Senhor resumiu este assunto: Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos. Vós sois meus amigos, se fazeis o que eu vos mando. Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer” (Jo 15.13-15).

Somos criaturas. Ele é o Criador. Somos servos. Ele é o Senhor. Entretanto, por amor ele assumiu o que nós somos e nos transformou em filhos, em amigos.

A ele toda glória!
 
 
 

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